Por que o sexo com drogas é tão presente entre os homens gays e bissexuais?

14/12/2020 21:27
 
 
O uso de drogas no sexo é algo que preocupa pela sua prevalência e seus potenciais efeito danosos
 
Bruno Branquinho:
 
Há algumas semanas, escrevi um texto falando sobre o chemsex (o sexo sob influência de substâncias psicoativas) e sobre o aumento de sua popularidade no Brasil, principalmente entre os homens gays e bissexuais. Neste artigo, expliquei do que se tratava o termo e seus efeitos potencialmente danosos aos seus praticantes. No entanto, uma discussão não aprofundada nele e que eu gostaria de começar neste é: por que os homens gays e bis estão cada vez mais procurando o chemsex?
A sexualidade é sempre um tema que levanta muitas questões ao indivíduo: “do que eu gosto?, “o que é normal?”, “será que outras pessoas também são assim?”. Mas, quando falamos da comunidade LGBT, isso pode ser ainda mais complicado. Crescer em uma sociedade ainda bastante preconceituosa significa  passar por experiências recorrentes de discriminação e violência e também internalizar sentimentos negativos quanto a sua sexualidade.
 
Isso pode dificultar o desenvolvimento da identidade sexual dessas pessoas, assim como diminuir suas autoestimas e atrapalhar seus relacionamentos amorosos e sexuais. E isso pode em parte explicar a maior prevalência do chemsex entre esses indivíduos.
Não é incomum ouvir no consultório homens gays e bis que relatam uso de drogas durante o sexo por ter dificuldade em lidar com sua própria sexualidade. Têm dentro de si uma homofobia internalizada tão intensa que, sem o uso de substâncias, não conseguem expressar esse desejo sexual, precisando da droga para “criar coragem” para conseguirem se relacionar com outros homens (“sem as drogas, na minha cabeça fica vindo o pensamento de que é errado”).
E numa sociedade em que o sexo ainda é tabu e muitas práticas sexuais e fetiches são vistos como “nojentos”, “errados” ou “imorais”( como por exemplo o fisting, a dupla penetração, o famoso golden shower, entre outros), alguns desses indivíduos podem recorrer ao chemsex como forma de se sentir à vontade para viverem suas sexualidades de forma mais tranquila (“eu nunca teria coragem de fazer aquilo sem as drogas, doutor”).
Também há os que usam das drogas para se sentirem mais confiantes na hora H. Sentem-se inseguros em relação a seus corpos (e sabemos que isso é bastante comum dentro da comunidade, como já explorado nesse outro texto que escrevi), ao julgamento dos parceiros sobre eles e também em relação a sua performance sexual (“se eu não uso a droga, eu fico com vergonha do meu corpo, doutor”) e, no chemsex, acham uma maneira de diminuir essas preocupações. 
Outra queixa presente em diversos estudos e que muitos desses homens trazem ao consultório é em relação à solidão. Seja como uma maneira de pertencer ao grupo e formar vínculos (“em toda festa tem, me sinto um ET se não uso”) ou como uma forma de derrubar a barreira da timidez, muitos homens gays e bissexuais têm procurado o chemsex para facilitar o sexo e a intimidade e também como um método para superar barreiras sociais e emocionais. 
No entanto, não raros são os casos em que esse tiro “sai pela culatra”: muitos desses homens que buscam maior intimidade acabam se queixando de que as relações sexuais sob o uso de substâncias são intensas, mas sem maior conexão com os parceiros, dado que muitas vezes não se lembram do que aconteceu ou têm vergonha de procurar os parceiros novamente, como se a prática fosse incompatível com relações amorosas mais longas (“doutor, parece que ninguém ali quer namorar, é só pelo sexo”).
O uso de substâncias psicoativas no sexo entre os homens gays e bissexuais é algo que preocupa pela sua prevalência e seus potenciais efeitos danosos. Neste artigo, trouxe algumas das principais queixas trazidas no consultório e observadas em trabalhos científicos sobre o assunto. Apesar de variadas, todas de alguma forma estão ligadas ao preconceito e à dificuldade da sociedade em lidar com assuntos como sexualidade e intimidade. 
Embora haja muitos avanços e conquistas recentes em termos de direitos da comunidade LGBT, esses indivíduos ainda vivem em um contexto social onde suas relações e suas emoções são de alguma forma invalidadas. Sem uma mudança mais efetiva nesse cenário, o chemsex, apesar de seus riscos, provavelmente continuará sendo usado como uma forma de essas pessoas poderem existir e se relacionar com um pouco menos de medo e insegurança.
 
 
Chorrochoonline
Via: Carta CapitalO uso de drogas no sexo é algo que preocupa pela sua prevalência e seus potenciais efeito danosos
 
Bruno Branquinho:
 
Há algumas semanas, escrevi um texto falando sobre o chemsex (o sexo sob influência de substâncias psicoativas) e sobre o aumento de sua popularidade no Brasil, principalmente entre os homens gays e bissexuais. Neste artigo, expliquei do que se tratava o termo e seus efeitos potencialmente danosos aos seus praticantes. No entanto, uma discussão não aprofundada nele e que eu gostaria de começar neste é: por que os homens gays e bis estão cada vez mais procurando o chemsex?
A sexualidade é sempre um tema que levanta muitas questões ao indivíduo: “do que eu gosto?, “o que é normal?”, “será que outras pessoas também são assim?”. Mas, quando falamos da comunidade LGBT, isso pode ser ainda mais complicado. Crescer em uma sociedade ainda bastante preconceituosa significa  passar por experiências recorrentes de discriminação e violência e também internalizar sentimentos negativos quanto a sua sexualidade.
 
Isso pode dificultar o desenvolvimento da identidade sexual dessas pessoas, assim como diminuir suas autoestimas e atrapalhar seus relacionamentos amorosos e sexuais. E isso pode em parte explicar a maior prevalência do chemsex entre esses indivíduos.
Não é incomum ouvir no consultório homens gays e bis que relatam uso de drogas durante o sexo por ter dificuldade em lidar com sua própria sexualidade. Têm dentro de si uma homofobia internalizada tão intensa que, sem o uso de substâncias, não conseguem expressar esse desejo sexual, precisando da droga para “criar coragem” para conseguirem se relacionar com outros homens (“sem as drogas, na minha cabeça fica vindo o pensamento de que é errado”).
E numa sociedade em que o sexo ainda é tabu e muitas práticas sexuais e fetiches são vistos como “nojentos”, “errados” ou “imorais”( como por exemplo o fisting, a dupla penetração, o famoso golden shower, entre outros), alguns desses indivíduos podem recorrer ao chemsex como forma de se sentir à vontade para viverem suas sexualidades de forma mais tranquila (“eu nunca teria coragem de fazer aquilo sem as drogas, doutor”).
Também há os que usam das drogas para se sentirem mais confiantes na hora H. Sentem-se inseguros em relação a seus corpos (e sabemos que isso é bastante comum dentro da comunidade, como já explorado nesse outro texto que escrevi), ao julgamento dos parceiros sobre eles e também em relação a sua performance sexual (“se eu não uso a droga, eu fico com vergonha do meu corpo, doutor”) e, no chemsex, acham uma maneira de diminuir essas preocupações. 
Outra queixa presente em diversos estudos e que muitos desses homens trazem ao consultório é em relação à solidão. Seja como uma maneira de pertencer ao grupo e formar vínculos (“em toda festa tem, me sinto um ET se não uso”) ou como uma forma de derrubar a barreira da timidez, muitos homens gays e bissexuais têm procurado o chemsex para facilitar o sexo e a intimidade e também como um método para superar barreiras sociais e emocionais. 
No entanto, não raros são os casos em que esse tiro “sai pela culatra”: muitos desses homens que buscam maior intimidade acabam se queixando de que as relações sexuais sob o uso de substâncias são intensas, mas sem maior conexão com os parceiros, dado que muitas vezes não se lembram do que aconteceu ou têm vergonha de procurar os parceiros novamente, como se a prática fosse incompatível com relações amorosas mais longas (“doutor, parece que ninguém ali quer namorar, é só pelo sexo”).
O uso de substâncias psicoativas no sexo entre os homens gays e bissexuais é algo que preocupa pela sua prevalência e seus potenciais efeitos danosos. Neste artigo, trouxe algumas das principais queixas trazidas no consultório e observadas em trabalhos científicos sobre o assunto. Apesar de variadas, todas de alguma forma estão ligadas ao preconceito e à dificuldade da sociedade em lidar com assuntos como sexualidade e intimidade. 
Embora haja muitos avanços e conquistas recentes em termos de direitos da comunidade LGBT, esses indivíduos ainda vivem em um contexto social onde suas relações e suas emoções são de alguma forma invalidadas. Sem uma mudança mais efetiva nesse cenário, o chemsex, apesar de seus riscos, provavelmente continuará sendo usado como uma forma de essas pessoas poderem existir e se relacionar com um pouco menos de medo e insegurança.
 
 
Chorrochoonline
Via: Carta Capital