Chorrochó: Câmara, vereadores e equívocos.
Desde o surgimento do município, lá pelos idos de 1954, os vereadores de Chorrochó ao longo dessas mais de seis décadas, nada mais foram que meros entes decorativos a serviço do Poder Executivo.
A Câmara Municipal se reunia, sempre a mando do prefeito, para referendar atos do Poder Executivo, que os vereadores sequer sabiam do que se tratava. Mas votavam orgulhosamente e cientes do cumprimento do suntuoso dever de legislar.
Em dias de sessão, o prefeito mandava buscá-los em suas casas, quase todos oriundos da zona rural, para dizerem “assim seja” ao que já estava decidido pelo alcaide. As sessões da Câmara aconteciam por simples formalidade. Isto era comum durante seguidas legislaturas.
Hoje a Câmara Municipal de Chorrochó tem um presidente jovem, dinâmico, atuante, meritório, admirável. Contudo, enquanto instituição, a Câmara demonstra-se vazia de debates e propensa a continuar trilhando os mesmos caminhos, embora a sociedade local se tenha tornado mais vigilante.
Todavia, os políticos de Chorrochó sempre padeceram de um equívoco: confundiam membro da oposição com inimigo pessoal e viam o governo municipal como uma coisa intocável. As ideias divergentes eram vistas como inimizades pessoais. E por isto ninguém se atrevia a ser oposição, como ainda hoje.
Os políticos de Chorrochó sempre souberam interpretar sabiamente o folclore político, segundo o qual, “oposição e sapato branco só é bonito nos outros”.
Todo governante que se preza acha saudável a oposição e não quer dela prescindir. É necessária, ajuda-lhe a corrigir os rumos que porventura estejam a merecer correções.
É o pensamento do filósofo Hegel (1770-1831): “Toda ideia precisa de outra que se lhe oponha para aperfeiçoar-se”. Aí está o cerne da oposição, sua razão de ser.
A população escolhe os vereadores para a digna função legislativa, mas exige, em contrapartida, o cumprimento do dever, o que de resto é óbvio.
Eles são habilitados democraticamente pelas urnas para ser a voz da sociedade, mas esta voz há de ser nítida, transparente, vigilante, firme, presente.
A Câmara de Chorrochó, assim como qualquer outra, não pode se tornar um clube para discutir amenidades, simplesmente porque não há divergência de ideias entre seus membros.
Em Chorrochó, bandear-se para o lado da oposição sempre foi uma temeridade. Por isto, ninguém se dispunha a divergir de ninguém e menos ainda do prefeito. Medo de perder as vantagens do poder, a gasolina do veículo, o serviço do mecânico, o transporte de um eleitor doente, a nomeação de uma professora e até a merenda escolar que desaguava nos redutos eleitorais dos vereadores, sempre de acordo com os interesses políticos.
Direitos se confundiam com favores, obrigações com generosidades.
Entretanto, recentemente surgiram algumas poucas vozes discordantes na Câmara Municipal de Chorrochó, o que é saudável para a democracia. Mas há notícia de alguns recuos que, pelo andar da carruagem, vão deixar o vereador Beto de Arnóbio falando sozinho. É a sina e a vocação dele, por enquanto.
Chegou a se falar em um grupo de vereadores que formaria uma possível bancada de oposição. Mas oposição em Chorrochó nunca resistiu aos encantos da Prefeitura e geralmente caiu de volta em seus braços.
Há vereadores que até sonham em ser oposição, mas por via das dúvidas, abancam-se do lado da situação. É mais cômodo, passam a ser mais visíveis perante a população.
Isto não quer significar que os vereadores precisam estar na oposição para ser atuantes. Eles podem discordar até mesmo dos aliados. A efervescência de ideias no ambiente legislativo beneficia a população.
O que não pode é a Câmara ser pautada pelo Poder Executivo, tampouco a altiva e respeitável casa do povo transformar-se em escritório tacanho e arrevesado da Prefeitura. Mas isto acaba ocorrendo por ausência ou fragilidade da oposição.
A vitória e a derrota no ambiente legislativo são comuns, fazem parte do exercício parlamentar. Decorrem das proposições e estas são inerentes ao processo legislativo, a essencialidade da Câmara Municipal.
Discutir somente aquilo que a maioria quer e concorda é apequenar a função legislativa. Ser unânime em tudo é coincidência demais e, em última análise, tolhimento de ideias.
A essência do Poder Legislativo é o debate, a dissensão.
Contudo, uma coisa é certa: o prefeito Humberto Gomes Ramos tem-se mostrado um estrategista. Talvez aí esteja sua capacidade de aniquilar qualquer tentativa de surgimento de oposição.
Ninguém resiste aos encantos de um prefeito politicamente esperto, nem mesmo confusos vereadores.
Um ditado diz que “sabedoria, quando é demais, vira bicho e come o dono”. O prefeito Humberto precisa ficar atento para não ser engolido pela sua esperteza.
Edimar Carvalho: O retorno de Eliete e Noelio da mais espaço para Josete de Bady que foi a vereadora mais bem votada crescer e se tornar cada vez mais forte na oposição.
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