Chorrochó: Dorotheu Pacheco de Menezes, Dr. Adauto Pereira e outras considerações por Walter Araújo

15/07/2018 17:08

Em princípio, cá entre nós, não costumo meter o bedelho onde não sou chamado.

Entretanto, tendo em vista nota publicada no blog Chorrochoonline e reproduzida em grupos de WhatsApp sobre a opinião de um participante, entendo razoável tecer algumas considerações sobre o assunto.

Não é demais lembrar que Dorotheu Pacheco de Menezes foi o responsável maior pela emancipação político-administrativa de Chorrochó.

Um município que preza sua história – e este parece não ser o caso de Chorrochó – incluiria a data de aniversário de Dorotheu e outras datas importantes do lugar em seu calendário cultural.

Não sou historiador, nem pretendo ser a esta altura da vida, tampouco possuo qualidade para isto, mas tenho dificuldade de entender a indiferença e o descaso com que Chorrochó trata a sua história. Indiferença e descaso inconcebíveis.

Talvez este descaso seja o responsável por informações enviesadas como esta que gerou a comparação entre o ilustre Dorotheu Pacheco de Menezes e o não menos ilustre Dr. Adauto Pereira.

Sobre o Dr. Adauto Pereira já escrevi noutra ocasião. Sertanejo de boa cepa, líder, aglutinador e político respeitado.

Por falta de sensatez política ou por excesso de insensatez cultural, a história de Dorotheu Pacheco de Menezes foi subtraída das gerações subsequentes. E aí, se misturam alhos com bugalhos, como se vê agora.

Foram a luta e o idealismo de alguns antepassados que construíram as condições de Chorrochó de hoje, o que parece óbvio, mas é necessário dizer.

Dorotheu é um exemplo disto. Exemplo claro, inegável, inquestionável, incontrastável. E compreensível, porque ele ocupou a dianteira em prol da emancipação e participou ativamente da luta em benefício de seu povo.

Todavia, não há estímulos para conhecimento da história, não se fazem campanhas incentivadoras e realizam-se somente eventos esporádicos, isolados, pontuais, desidratados de conteúdo duradouro.

Argumentar-se-á que o passado é assunto de museus. Também é, mas isto não exclui o respeito que devemos ter por nossas tradições e nossos antepassados. O passado é a raiz do presente e certamente será do futuro.

Mas vamos ao assunto principal. A história não registra, em nenhum momento, que o ilustre Dr. Adauto Pereira tenha se imiscuído na política de Chorrochó a ponto de aniquilar a influência de Dorotheu Pacheco de Menezes e, por consequência, de seus descendentes e dos seguidores de sua orientação política. Há carência de fundamento fático, lógico e histórico quanto a isto.

Ademais, Dorotheu Pacheco de Menezes não se firmou como “coronel”, mesmo porque sua atuação diferia, essencialmente, do conceito de “coronelismo” adotado pelos estudiosos do assunto.

Ademais, não me parece sensato insinuar que Dorotheu Pacheco de Menezes era partidário da escravatura. Ao contrário, ele incentivava os jovens ao estudo, tanto que criou o Ginásio Oliveira Brito, embrião do Colégio Normal São José, instalou escolas rurais, contratou professores e era defensor entusiasta do desenvolvimento do município. Como se vê, são condutas antagônicas àquelas exercidas pelos senhores de escravos.

Vi-o muitas vezes defendendo emprego para os jovens, mesmo dentro das limitações da época e, como tal, não podia ser protagonista de uma sociedade semelhante à escrava. Qualificá-lo de escravagista é um desrespeito à memória de Dorotheu e um espezinhar ao seu legado histórico.

Dorotheu aproximava-se mais da condição de chefe de clã: “os Pacheco” que, historicamente, evoluíram para “os Menezes” de Chorrochó.  Família respeitável e de caráter irrepreensível.

Em meu livro quase-biográfico Dorotheu: caminhos, lutas e esperanças observo esta diferença tênue entre “coronel” e chefe de clã e tive o cuidado de não ferir o conceito adotado pelos estudiosos do coronelismo nordestino.

As citações sobre “coronel” que fiz no livro tiveram o condão de situar o líder Dorotheu  Pacheco de Menezes no contexto histórico da época.

Escrevi lá: Dorotheu tinha uma liderança contínua, respeitosa e eminentemente voltada para os pobres. Tinha raízes interioranas, tradições e jeito de “coronel”, mas não era.

Insta acentuar que a qualificação de “coronel”, aqui, situa-se mais sob o ponto de vista histórico do que, propriamente, sob o prisma de uma mácula ao chefe político.  Aliás, ser “coronel” no Nordeste significa, até hoje, mais uma condição política do que uma truculência pessoal do líder.

De sorte que nunca é demais repor os meandros da história quando é possível fazê-lo. Neste caso, entendo necessário.

Quanto ao Chorrochoonline, é preciso distinguir a opinião do blog da opinião de terceiros publicada lá. Entendo que o blog fez a citação. É o exercício do direito de informar.

O limite das fronteiras das palavras cabe a quem as pronuncia.

Fonte: araujo-costa@uol.com.br