Chorrochó: registro de uma saudade

02/05/2022 15:41


No remoer da saudade, do pensar e do refletir, a lembrança de Rogério.

Rogério Luiz de Menezes Ribeiro nasceu em 24/07/1966 e faleceu em 09/05/2009.

Graduado em Enfermagem pela Universidade Católica da Bahia, Rogério faleceu um tanto jovem, ainda no despontar do caminho em direção aos horizontes da vida. Vai, por aí, mais de uma década.

Mas, como só Deus nos dá a vida e somente ele permite a morte, resta-nos entender os seus desígnios.

Quando uma pessoa próxima ou conhecida se vai para a eternidade, quase sempre refletimos sobre a morte: o inesperado dela, sua irreversibilidade, o inalcançável de sua explicação e a dificuldade de entendê-la.

Vivo em meio à selvageria da cidade grande, preocupado com tempo e objetivos, envolto às incertezas de uma metrópole cruel e violenta, cada vez mais necessitada da presença de amizades, que se escasseiam com a morte de alguns amigos e a dificuldade de construir novas.

As frias e agitadas multidões nos envolvem, sufocam, barbarizam a convivência. E nos distanciam de amigos, pessoas caras, mesmo que tenham sido fundamentais em nossa vida.

Essa realidade cruel e inominável me leva sempre a refletir sofre a efemeridade da vida.

Aguça as lembranças de outro tempo, não muito longe e, não obstante, não muito perto.

Permite que me lembre de pessoas com quem convivi em quadras memoráveis do tempo.

São imagens que ficaram, tocam, cutucam a vida, dilaceram em razão da saudade.

Não obstante jovem, Rogério já estava bem encaminhado na vida. Deixou pai, mãe, esposa, filhos e parentes dilacerados pela ausência. Descendente de família limpa, honrada, honesta, tradicional, essencialmente cristã.

Rogério foi-se silenciosamente num mês de Maria, das mães, das flores. Cruel a partida, difícil o momento.  

Contudo, o que me ficou de Rogério, com quem convivi, além da saudade, foi a imagem que guardei de sua época de criança, o andar pelas calçadas de Chorrochó, os olhos claros de sua inocência de garoto bem comportado.

Essas lembranças ficaram, não se apagaram diante do correr apressado do tempo. Guardo dele esse retrato de menino puro e atencioso.  

Por que, às vezes, o cronista se perde nessas abstrações?

É para tornar mais leve o caminhar, suavizar os tropeços da vida e a incerteza do caminho a ser percorrido, se ainda há caminho a percorrer - e sempre há, para nós, que ainda ficamos por aqui.

Essas boas recordações nos fazem mais humildes, mais conscientes e menos arrogantes diante da passagem da vida em direção à morte inevitável.

É a memória salvando-nos do imponderável.

Nada existe mais seguro diante de nossas fragilidades do que lembrar que no passado, às vezes distante, convivemos com pessoas boas, indiferentes às maldades, que construíram a vida sem escalar o ombro do semelhante para sobressair-se.

Guardo a imagem de Rogério jovem, alegre, encantador. Conheci-o em 1971, ainda não tinha cinco anos de idade.

Rogério deixou a bondade como referência. E a saudade imorredoura, perdurável, presente.


fonte:blogdowalter