Festa de Santo Antonio de Patamuté

04/06/2018 20:02

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Começa no primeiro dia do mês de junho – e se prolonga até o dia 13 – a festa de Santo Antonio de Patamuté, padroeiro do lugar, no sertão baiano de Curaçá. Mui remotamente Patamuté elevou-o à condição de padroeiro, assim como Abaré, Canudos, muitos outros lugares da região e inúmeros espalhados pelo mundo.

É impressionantemente popular e querido “o santo de todo o mundo”, como assim é chamado pelos católicos desde o século XII.

O que é ser padroeiro? Significa ser protetor, patrono, ser presente no dia-a-dia do povo. A festa de Santo Antonio, conhecida como trezena, porque se estende por treze dias, vai acontecendo, fervorosamente, avivando a fé de quem a tem ou, pelo menos, pensa que tem. Mas, em termos de fé, o importante é pensar conforme o preceito bíblico, que diz: “Fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hebreus, 11-1).

Diz a história de Patamuté – e a história é sábia – que a primeira imagem de Santo Antonio, que ainda está lá na igreja, ao lado de outra adquirida depois, foi doada por um retirante lá pelos idos de 1902 ou 1903. A torre da igreja foi levantada em 1906. O certo é que Patamuté já ultrapassou um século de fé e devoção ao padroeiro.

Antigamente, a expectativa do povo era muito grande à espera da festa. Quer dizer, antigamente é modo de dizer, porque não sou tão velho assim, para que um antigamente venha se intrometer nesta crônica. É que sou de uma quadra do tempo em que o respeito à igreja e ao seu calendário era mais evidente. Revestia-se de seriedade e a religião não se misturava tanto com as coisas profanas. Havia uma separação criteriosa e necessária.

Havia expectativa à espera dos festejos, porque naquele tempo, aguardava-se a festa do padroeiro para se realizarem casamentos e batizados. Houve um tempo em que os casamentos de Patamuté eram acompanhados pela Orquestra Filarmônica 15 de Março, de Barro Vermelho, sob a regência do maestro Filemon Martins.

A procissão de encerramento da festa, dia 13, acontecia num clima de reverência. Os comerciantes fechavam as portas de seus estabelecimentos em sinal de absoluto respeito, independentemente da fé que professavam.

Entretanto, sabe-se que nos dias de hoje não é mais assim. Mudou o tempo, mudaram-se os costumes e o conceito de respeito à fé alheia.

Há mais de uma década, pelo menos, a falta de criatividade permitiu que se fizesse uma pista de dança nos fundos da igreja de Santo Antonio. Podia ser mais distante do local onde se praticam as atividades religiosas, porque espaço sempre teve. Entretanto, minha pequenez de raciocínio não me autoriza a criticar a inteligência de nossos governantes municipais. Todavia, mudou ou está mudando, parece.

Além do mais, falando de antigamente, participei, como pude, das atividades da pequena igreja de Patamuté e fui até, em certo ponto, um ingênuo defensor da ideia de que lá fosse criada e instalada uma sede de paróquia, para que tivesse padre diuturnamente, cuidando das fraquezas e misérias humanas.

Coisas da juventude, uma ideia difícil de acontecer e de explicar, mas própria dos sonhos da idade. Os sonhos são os melhores atributos da juventude.

O padre Adolfo Antunes da Silva, que foi vigário de Curaçá e meu amigo, disse-me, sabiamente, que a juventude às vezes não tem em que se amparar, a não ser na própria utopia. Eu era utópico neste particular. A utopia é inerente à juventude.

Patamuté sempre segurou suas tradições religiosas, com a força de sua gente, independentemente de ser sede de paróquia. Continua não sendo e, apesar disto, Santo Antonio está lá, excelso, galante, protetor. Com a dedicação de seus moradores e a indiferença injustificável de alguns filhos relapsos e distantes como eu.

O certo é que Patamuté já está em festa. Desde os primeiros dias de maio já acontece um quê de felicidade. Alguns de seus filhos mais presentes não deixam esmorecer a homenagem ao santo padroeiro, tampouco se esquecem do lugar nesta época do ano. E para lá acorrem com o intuito de sustentar a fé e tradição do lugar. Escravo dos meus defeitos, eu não me tenho feito presente há anos.

Cada dia, nesses treze da festa, a comunidade se faz presente, como se angariando forças para a continuidade da vida. Reflete sobre os temas de cada noite, temas fortes, necessários, importantes para a comunidade.

Generosamente, a organização da festa tem me incluído como noiteiro no dia 06. Sou grato e elevo minhas preces ao glorioso Santo Antonio para que cuide bem de seu povo, como sempre fez.

Santo Antonio de Patamuté está lá, acolhedor, hospitaleiro, protetor e glorioso. E seus filhos pedem sua bênção tão necessária neste mundo de turbulências, crueldades e desassossego.

araujo-costa@uol.com.br