João Soares, a vida e as marcas da vida

23/12/2020 15:58
João Soares de Carvalho/foto do Facebook

João Soares de Carvalho nos deixou ao apagar das luzes deste conturbado ano de 2020, aos 63 anos completados em junho.

João era filho de Eugênia Soares do Nascimento Arnaldo e Abraão de Carvalho Arnaldo, de estirpe tradicional e bem conceituada de Chorrochó.

João de Abraão, como era mais conhecido entre amigos, deixa a vida e as marcas da vida. Foram tantas!

Ainda muito jovem João deixou Chorrochó e foi para São Paulo, assim como tantos outros milhares de nordestinos. Ele tinha um sonho a mais na bagagem, que lhe acompanhou por décadas: firmar-se como cantor e viver da profissão.  

Joao participou dos mais badalados programas de auditório e de calouros da televisão de São Paulo, a exemplo de Sílvio Santos, Bolinha, Raul Gil, etc.

Não tenho conhecimento de programas do gênero de que ele não tenha participado nos áureos tempos dos jurados de televisão, uns sisudos, outros generosos, mas que sempre lhe atribuíam notas máximas.

João tinha voz admirável, postura e estrutura formal de cantor de grandes palcos. Interpretava respeitados nomes da música, agigantava-se no ofício de cantar. Transitava dos clássicos boleros ao forró pé de serra, do romântico ao popular. No repertório de João não havia barreiras.

Já cantor profissional, embora ausente na mídia, por razões que nunca entendemos, João fundou uma banda e com ela passou a animar bailes e eventos do gênero, com boa estrutura e nome profissional firmado no meio artístico.

Assim, João cavou a vida em São Paulo, honestamente, diuturnamente. Exemplo de profissional dedicado, amealhou muitas amizades, dentro e fora do meio artístico, porque seu feitio era este, desde a juventude.

Todavia, não quero falar aqui somente do João cantor, do João artista, do João que frequentou, com desenvoltura, por muito tempo, os camarins da televisão de São Paulo.

Falo também de João de Abraão, do adolescente educado, colega ginasiano do então Colégio Normal São José, de Chorrochó, lá no começo da década de 1970, das conversas despretensiosas no Bar Potiguar, da realização dos sonhos que nos parecia tão distante. De fato, era distante.

Estávamos no início do caminho para a distância. Caminho longo, desconhecido, cheio de pedras.

Simples, sorriso largo, traço que carregou por toda a vida, João não se enrolava com as intempéries da vida.  

Caminho difícil, não foi, João? Mas uma jornada vitoriosa, trilhada com muita honra, persistência, dedicação e humildade, muita humildade.

No penúltimo contato que tive com João, ano passado, ele escreveu: “Sou seu fã, desde muito tempo”. Ele sabia que o inverso é verdadeiro. Desde nossos tempos de Chorrochó.

Deixo aqui o registro da saudade e os pêsames a todos da família.

www.chorrochoonline.com

Via: araujo-costa@uol.com.br