MEMÓRIA DISPERSA DE CHORROCHÓ (POVOADO DE SÃO JOSÉ)

23/04/2013 18:40

          Memória dispersa de Chorrochó (VI)

 

   Foto: Lider do Sertão

 

O povoado de São José cresceu – ou tentou crescer – com a ajuda possível de seus próprios recursos, advindos, unicamente, do trabalho suado do homem do campo. Pequenos agricultores que viviam, como ainda hoje, da cultura de subsistência, plantando feijão, milho, abóbora, melancia e batata doce, para criar seus filhos, desesperançados em razão da pobreza do lugar. E criando pequenos rebanhos de caprinos e ovinos, quase sempre dizimados pelas constantes secas.

Hoje São José tem, se tanto, aproximados trezentos e cinquenta habitantes, causticados pelo sol escaldante, porque o clima lá é cruel, quente, árido, extremamente difícil de enfrentar.

Comum entre seus becos empoeirados, mais do que pessoas, eram o caminhar das cabras e o tilintar de seus chocalhos, assim como porcos e galinhas.

Mas o povoado tinha um líder político que sempre lutou por sua gente: Boaventura Manoel dos Santos. Vereador por diversos mandatos, com altivez e extrema dedicação, contou sempre com o apoio incondicional de seu povo, que o mantinha na Câmara Municipal de Chorrochó para ser sua voz, seu refúgio, sua retaguarda. E ele, no que pôde, cuidou de São José, diuturnamente. Para isto, teve a ajuda e solidariedade de outro líder político de Chorrochó: Dorotheu Pacheco de Menezes. Ambos viabilizaram a professora “formada”, como se dizia à época, Maria Dias Sobrinho, dando-lhe oportunidade para morar no povoado, ensinar, abrir o caminho para as crianças seguirem em direção ao futuro. Maria Dias era uma criatura humilde, reflexiva, responsável. Deixou a semente para a juventude de hoje. E o exemplo de luta.

O Colégio Estadual Maria Dias Sobrinho, embora ainda funcione em condições precárias, dá aos jovens de São José esperança, estímulo para o prosseguimento da caminhada e, sobretudo, o fundamento para a construção do caráter, espinha que deve nortear a vida de todos nós. Nenhum horizonte será possível se faltarem a persistência e a vontade de seguir avante. E só a escola é o caminho certo.

Conheci Maria Dias Sobrinho, como eu, nascida na caatinga, ainda no início do exercício de sua profissão de mestra, enfrentando dificuldades de toda ordem, até mesmo para receber o salário. Ainda assim, lutou, sofreu, ensinou, enfrentou a solidão do lugar.

Salvo engano, o Colégio foi fundado em 1981 e, após trancos e barrancos, autorizado a funcionar somente em 2005. Todavia, pelas informações que me chegam, ainda está às voltas com o descuido das autoridades. Faltam condições básicas para o exercício de suas atividades, falta apoio permanente ao seu corpo docente e aos alunos. Sobra omissão do Poder Público.

São José é um povoado de pessoas humildes, dignas, resistentes ao tempo e às intempéries. É um conjunto de casas simples e rodeado pela vegetação da caatinga. Mas tem a semente para germinar o idealismo dos jovens: o Colégio Maria Dias Sobrinho.

 

Redação do chorrochoonline.com

Fonte araujo-costa@uol.com.br

 

Escrito por Escrito por Walter às 18h56