O abismo político de Neto

06/01/2016 13:41
A escolha do vice de ACM Neto nas eleições municipais deste ano é uma tarefa mais difícil do que muitos imaginam. Definir quem ocupará o cargo, se o democrata for mesmo reeleito, não é apenas escolher quem ficará no lugar dele quando estiver em viagens fora da capital baiana ou ser o seu porta-voz quando não puder falar. Optar por A em vez de B pode trazer no horizonte um efeito colateral.   
 
Neto está ciente disso e tem sido cauteloso ao se pronunciar sobre o assunto. Sabe ele que qualquer desatenção nesta escolha pode ser a gota d’água no futuro.  Como é óbvio ululante, o prefeito é forçado a deixar o cargo se for eleito para outro. E não é nenhum absurdo dizer que o democrata pode querer, se eleito nas eleições de 2018, deixar a prefeitura para ocupar a cadeira do Palácio de Ondina. E não há pecado nisso.
 
Essa decisão fará, todavia, com que o vice definido no pleito deste ano passe a ocupar o Palácio Thomé de Souza.  Calha recordar que, ao menos sete nomes disputam o cargo: os secretários Guilherme Bellintani, Silvio Pinheiro, Luiz Carreira, Bruno Reis, Fábio Mota, o presidente do Legislativo Municipal, Paulo Câmara, e a atual vice-prefeita Célia Sacramento.
 
A história recente mostra que deixar um cargo para concorrer a outro é uma jogada arriscada. E a má escolha de um sucessor pode acarretar enormes prejuízos políticos. Em 2006, o então vice de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), assumiu a prefeitura após o titular José Serra (PSDB) renunciar para disputar o governo do estado. O pessedista conseguiu se reeleger dois anos depois.
 
Mas, quando Serra tentou voltar para a prefeitura em 2012, após perder a eleição presidencial dois anos antes, sentiu o peso da problemática administração do seu “afilhado político”. Segundo analistas, o tucano não perdeu o pleito por deixar o governo municipal para concorrer à presidência, mas por defender e apoiar a má gestão de Kassab.
 
Descendo alguns degraus da história, em 1989, o hoje vereador de Salvador, Waldir Pires (PT), renunciou o cargo de governador da Bahia para ser candidato a vice-presidente na chapa com Ulysses Guimarães. Em seu lugar, ficou o vice Nilo Coelho.
 
A decisão de Waldir na época foi vista como um mau cálculo político. Até hoje, imputam-lhe a sua saída do governo o renascimento da fénix chamada “carlismo”. Não há dúvida que a gestão impopular de Nilo Coelho teve papel preponderante para o retorno de ACM, que no seu jingle dizia que a Bahia estava só e precisava de alguém para governar com “força e coragem”.
 
Diante disto, Neto precisa ter atenção na sua escolha para não cavar com os próprios pés o seu abismo político.
 
*Rodrigo Daniel Silva é repórter do Bocão News