Professora da rede municipal na BA recebe prêmio após criar projeto de valorização de raízes afro-brasileiras

13/12/2020 09:31

Carla Santos Pinheiro desenvolveu o projeto 'Uhuru! Procura-se Representação', responsável por proporcionar para crianças uma jornada de descobrimento.Professora da rede municipal recebe prêmio após criar projeto de valorização de raízes afro-brasileiras — Foto: Arquivo PessoalA professora Carla Santos Pinheiro, da Escola Municipal do Loteamento Santa Júlia, em Lauro de Freitas, cidade da região metropolitana de Salvador, foi a vencedora na categoria Educação Infantil do prêmio Arte na Escola Cidadã, do Instituto Arte na Escola, com o projeto "Uhuru! Procura-se Representação".

 

O projeto desenvolvido pela baiana trabalha música, teatro, artes visuais e dança com os alunos, e trata sobre ancestralidade e pertencimento, e proporcionou para crianças uma jornada de descobrimento e valorização de suas raízes afro-brasileiras. O resultado saiu no dia 25 de novembro, por uma live.

 

"O resultado dos projetos finalistas saiu em 20 de agosto. E o resultado dos vencedores seria em 28 de agosto, pois, o evento de premiação acontecia – até então – em novembro, na cidade de São Paulo. Mas, em decorrência da pandemia, fez-se necessário alterar esta dinâmica e o resultado aconteceu por meio de live iniciada às 19h do dia 25 de novembro de 2020".

 

O professor autor do projeto premiado de cada categoria recebe R$ 10 mil e, a escola, equipamentos eletrônicos. Todos os inscritos - premiados ou não - ganham do Instituto Arte na Escola um material educativo impresso e um percurso formativo totalmente online, inspirados na obra de Siron Franco - o artista homenageado da edição 2020.

 

Segundo Carla Santos, a premiação por ter criado o projeto representa o enfoque quanto à educação antirracista.

 

"Além da experiência poder constituir-se como inspiração na abordagem quanto às relações étnico-raciais, a trajetória teve por amparo a efetiva relação escola/família/comunidade. Além de itinerários que privilegiou a cultura da infância e o protagonismo infantil para a construção da identidade racial positiva'", disse.

 

Carla Pinheiro lembra que após alguns anos de realização, o Prêmio Professores do Brasil, feito pelo Governo Federal, foi cancelado, em 2019, sob a justificativa de que seria reestruturado e ainda não foi retomado na gestão atual

 

"Enfim, se o Estado – por meio de posturas objetivas e subjetivas – invisibiliza nossas práticas que se impõem como mecanismos capazes de concretizar um projeto de nação alicerçado na democracia, em contrapartida, há outros itinerários a serem seguidos para não permitir que silenciem nossas vozes", contou.

 

Ao G1, Carla Pinheiro contou que o impacto do prêmio na escola acontece de formas distintas, potentes e eficazes.

 

"A princípio, houve a reflexão e ressignificação de identidades em suas múltiplas e complexas dimensões. Repensamos sobre nossas identidades individuais e coletivas, sobre o nosso modo de ser, de pensar, de agir e de existir", disse.

 

Além disto, segundo a professora, o recebimento de um prêmio pela comunidade escolar e local repercute na autoestima, nas possibilidades de mudanças de alguns quadros – sobretudo de violências materiais e simbólicas.

 

De acordo com a professora, o projeto buscou tocar, por meio pedagógico, o exercício da cidadania como forma de mudar a sociedade, em especial, quanto a presença do município em índices de violência divulgados, dentre outras ferramentas, pelo Mapa da Violência e pelo Atlas da Violência.

 

"Neste contexto, tem os jovens negros e as mulheres como principais vítimas, mas, que, sabemos é a causa da violação de direitos de outras pessoas, em especial, das famílias e da comunidade".