Sempre De Olho na Política: Chorrochó, os frágeis andaimes da construção política por Walter Araújo

19/08/2020 18:51

“A política adora a traição, mas abomina o traidor” (Ulysses Guimarães) De onde não se espera é que não sai mesmo.

Em princípio, como mandam a lógica e a consequência da lógica, Chorrochó vinha caminhando no sentido de definir-se eleitoralmente assim: o candidato da situação, por enquanto o prefeito Humberto Gomes Ramos (PP), que pretende reeleger-se e, de outro lado, o candidato da chamada oposição.

Mas surgiu um quiproquó, o que, de resto, é natural em política. O Partido dos Trabalhadores (PT) matreiramente sinalizou que pretendia lançar a candidatura de Adriana Maria Araujo Menezes a prefeita do município e até a convenceu a filiar-se ao partido, segundo consta.

Contudo, em data recente, sabe-se que o PT procurou Adriana Araujo e lhe informou que ela não vinha pontuando satisfatoriamente nas enquetes realizadas no município e, em razão disto, o partido decidiu optar por outro nome. 

Em consequência, o PT inviabilizou a pré-candidatura de Adriana Araujo, negando-lhe a legenda que havia prometido. No mínimo pode-se dizer que o partido foi desleal com a pretensa pré-candidata.

O PT podia ter evitado o desgaste, levando o nome de Adriana Araujo à convenção do partido, que é a instância própria em situação como esta.

Em quadro assim, parece razoável afirmar que Adriana Araujo guardou a dignidade pessoal e política e o PT recolheu a mancha da embromação.

O PT cometeu duplo equívoco. Primeiro: enquete e nada é a mesma coisa. Segundo: o PT não reuniu condições estratégicas para laborar com a previsão de que, em razão da mudança, muitos eleitores da oposição vão se debandar para a candidatura do prefeito Humberto Gomes Ramos, exatamente quem o PT quer enxotá-lo do poder.

Enquetes sem nenhum rigor científico não refletem, necessariamente, a vontade do eleitor. Mas o PT de Chorrochó acha que refletem. E a insignificância deste escrevinhador não permite contestá-lo.

Ou seja, a oposição de Chorrochó está contribuindo ingenuamente para a vitória do prefeito Humberto nas urnas de novembro.

É cedo para conjecturar, mas não é pecado arriscar que a reeleição do prefeito Humberto Gomes Ramos parece certa, se ele for mesmo o candidato da situação.

A circunstância será outra se, por qualquer razão, Humberto Gomes Ramos não puder disputar a eleição, o que, por enquanto, afigura-se tão somente como hipótese.

A costura política petista, se já concluída, não pareceu acertada. Vislumbra-se ausência de estratégia. Não se constroem apoios políticos afastando aliados. Isto é elementar.  

Há tempo o prefeito Humberto Gomes Ramos vem ensinando a oposição de Chorrochó. Com uma diferença: o prefeito é mestre na arte de silenciar os adversários e, por óbvio, não ensina o pulo do gato à oposição, que continua perdida.

Em 2012, o mesmo Humberto Gomes Ramos sinalizou que indicaria como sua candidata a prefeita a respeitável médica Socorro Carvalho, profissional de grande prestígio na região e de caráter irrepreensível.

O prefeito cozinhou o galo, segurando-a em suas fileiras, para evitar que ela saísse candidata da oposição, até vencer o prazo de filiação partidária. A médica, descendente de berço honesto e tradicional de Chorrochó, usou de boa-fé e confiou na palavra do prefeito. Sem êxito.

Consumada a estratégia engendrada, o prefeito lançou Rita de Cássia Campos Souza e abandonou a médica às vésperas das convenções partidárias. Deu certo. Rita Campos foi eleita retumbantemente com 57% dos votos válidos.

Dir-se-á que isto é passado. Concordo, mas é história que o município não pode olvidar.

O PT de Chorrochó se espelhou no prefeito Humberto Gomes Ramos e tentou aplicar agora, atabalhoadamente, a mesma estratégia com Adriana Araujo, abandonando-a no caminho, após convencê-la a filiar-se ao partido e prometer-lhe o abrigo da legenda para amparar sua candidatura.

Isto tem outro nome: traição. E traição com sabor amargo, como toda traição.

Quanto ao ex-vereador Silvandy Costa Alves (Bady), que por enquanto, parece ser o escolhido pela oposição, PT inclusive, trata-se de um político sério, sobejamente conhecido no município e portador de atributos tais que lhe credenciam a ser prefeito de Chorrochó. Carrega no histórico pessoal alguns mandatos de vereador bem avaliados.

A discussão aqui não tem como fulcro o candidato que o PT resolveu apoiar, mas a mudança abrupta, a quebra do compromisso com Adriana Araujo e, sobretudo, a deslealdade do partido, que parece evidente, em relação à então pré-candidata.

A oposição de Chorrochó pretende erguer sua construção político-eleitoral sustentando-se em andaimes frágeis.

Pretender alcançar a dianteira do destino pressupõe levar consigo os aliados de primeira hora e não pisoteá-los ao longo do caminho.

De qualquer forma, de onde não se espera é que não sai mesmo.

araujo-costa@uol.com.br