WALTER ARAÚJO COSTA: Memória dispersa de Chorrochó (XIII)

29/11/2013 08:51

             Quem escreve:

Walter Araújo Costa advogado,escritor e jornalista.
Política, poder, cultura, bastidores, literatura.
São Bernardo do Campo - SP
araujo-costa@uol.com.br

 

   1971. Precisamente na primeira semana de janeiro tive meu primeiro contato com algumas pessoas de Chorrochó, que passaram a fazer parte de meu mundo. O tempo permitiu a continuidade da amizade para umas e interrompeu para outras. A morte levou amigos preciosos construídos naquela ocasião e meus colegas na universidade da vida. Eles e eu aprendemos juntos, através da convivência, a entender a fraqueza e as misérias humanas. E também a desfrutar a passagem do tempo, não obstante solavancos, tropeços, quedas.

                Tive por lá amigos pessoais, sinceros, confidentes. E outros mais experientes, protetores, respeitosos e, sobretudo, indispensáveis.

                 A crueldade da morte retirou muitos do convívio e os substituiu por lágrimas. Mas a vida vem permitindo que outros ainda estejam por aí, andando nas estradas do tempo. E o sentido da vida, que parte da Filosofia explica como sendo a interpretação entre nós e nosso mundo, continua inexplicável, continuará inexplicável.  

                Há algum tempo soube que Ângela Maria Silva, uma doce criatura de Chorrochó, citou meu nome, em conversa, numa festa da cidade, como sendo um “grande amigo”. Honrou-me a citação, porque faz muito tempo que nos vimos e, mais ainda, tendo em vista a certeza de que a passagem dos anos ainda não diluiu a amizade e a consideração.  

                O principal componente na construção dos mitos é o mistério. A amizade é um mito, tal o intrincado de sinais que a fazem sincera, se sincera, quando sincera. Talvez em cada amizade exista um mistério suportável capaz de torná-la indestrutível e perene. “Ou não”, como diria Caetano Veloso.

Quiçá a definição mais completa de amizade seja a de Walter Winchell, segundo o qual “amigo é o que chega quando as outras pessoas estão indo embora”. Citei-a no livro Dorotheu: caminhos, lutas e esperanças. É profunda, filosófica, convincente. Tenho-a como parâmetro para avaliar minhas amizades.

Em certas situações angustiantes, os que se dizem amigos se afastam e somente ficam aqueles que auscultam nossa alma, o momento de desespero e compreendem a solidão, a desesperança, o desamparo. Aí está, possivelmente, um dos mistérios que compõem o mito da amizade: a compreensão. Difícil, não?

Quanto a Ângela Silva – e é dela que falo hoje - conhecemo-nos naquele janeiro de 1971, ambos muito jovens, curtindo as angústias da juventude, cavando o futuro, ainda estudantes ginasianos envoltos em sonhos e perspectivas. Juventude difícil, éramos muito dependentes de tudo. Em conversa de jovens, às vezes dividíamos as impressões que tínhamos sobre pessoas, como se um amparasse o outro do vazio e das incertezas. Essas lembranças ficaram, solidificaram, perduraram.

Vivíamos numa Chorrochó pequena. Os principais programas oferecidos aos jovens eram os bancos das praças, ao cair da noite. Neles nasciam amizades e namoros, germinavam casamentos e dava-se o primeiro passo em direção ao destino. Nossa amizade nasceu ali, nesse ambiente ingênuo de idealismo e simplicidade.

Entre os jovens há propósitos e o nosso era ascender socialmente, através do estudo. Ângela casou, progrediu, especializou-se em sua área de atuação e teve uma filha, Rita Gabriela que, segundo me contam, também gosta de fazer amizades, assim como fazia sua mãe e minha amiga desta crônica. As amizades ainda são a brandura da vida. Serão sempre.

                    

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